Vladimir Queiroz e a poética das ruínas: ‘Kairós’ chega à Romênia
O premiado escritor feirense Vladimir Queiroz amplia sua presença internacional com a publicação de mais uma obra no exterior. Seu livro Kairós (Penalux, 2020) acaba de ser lançado na Romênia pela Editora Timpul, com tradução de Lavinia Vrajitoru, prefácio do poeta romeno Marius Chelaru e ilustração de capa assinada por Lilian Morais.
Para Queiroz, cada livro nasce de inquietações e observações pessoais. Kairós não foge a essa lógica: “O trabalho nasceu dessa necessidade crescente de lançar um olhar sobre as ruínas”, explica o autor. Ruínas, para ele, são testemunhos do tempo, vestígios que provocam reflexão.
A obra foi gestada a partir de experiências visuais e emocionais. “Inicialmente, eram ruínas físicas: casarios abandonados, civilizações extintas, fragmentos gregos, romanos, maias, incas, astecas. Essas imagens passaram a me instigar, a me fazer pensar, a gerar questionamentos sobre mim mesmo e sobre o mundo”, revela. Mas não apenas estruturas antigas serviram de matéria-prima para sua poesia. “Aí veio a pandemia, e uma nova ruína se instalou: o distanciamento social, a privacão do convívio”, reflete.
O título Kairós emergiu dessa necessidade de compreender o tempo para além da cronologia. “Procurava um nome que transmitisse essa ideia de um tempo que não fosse apenas linear, mas que fechasse ciclos e abarcasse tudo o que foi e o que será.” Foi em 2015, no discurso de posse de Gerana Damulakis na Academia de Letras da Bahia (ALB), que Queiroz teve seu primeiro contato com a palavra. “Soube então que Kairós é o tempo oportuno, o tempo de Deus, onde tudo acontece e se completa.”
Essa noção permeia a estrutura do livro: ele se inicia com o poema Babel, uma referência à torre bíblica que simboliza os desentendimentos e a falha na comunicação, e encerra-se com Kairós, a plenitude do tempo que reorganiza os fragmentos.
Sobre o autor
Nascido em 1962, em Feira de Santana (BA), Vladimir Queiroz é graduado em Engenharia Química pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com especialização em Engenharia de Petróleo. Terminou o Segundo Grau (atual Ensino Médio) em Feira de Santana e se estabeleceu em Salvador desde a graduação até os dias atuais.
Sua produção literária abrange uma série de títulos publicados no Brasil e no exterior, incluindo Seres & Dizeres (1995), Terracota (2001), Luminescência (2008), Muxarabis (2015) e Kara wã (2022).
Seu reconhecimento internacional vem crescendo, com traduções publicadas em Portugal, Romênia, Colômbia, Itália, Chile e Albânia. Além disso, participou de diversos eventos literários ao redor do mundo, incluindo Portugal, Colômbia, Itália, Romênia e Moçambique.
Seu livro Kara wã recebeu o Prêmio Book Brasil 2022 de Melhor Livro de Poesia, e sua obra inédita Abayomi foi contemplada com o Prêmio Literário Cidade de Manaus 2024.
Com uma poética marcada pelo diálogo entre tempo, memória e existência, Vladimir Queiroz segue expandindo sua voz literária para novos territórios, reafirmando sua posição como um dos grandes nomes da poesia contemporânea brasileira.
Everaldo Goes – Feira Hoje
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28/03/25