Tese na UFRB identifica isolado de fungo capaz de controlar a pior doença da bananeira
Pesquisa teve orientação da Embrapa Mandioca e Fruticultura e foi defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias
Resultados promissores foram obtidos com o fungo Trichoderma asperellum no controle de outro microrganismo do mesmo reino, o Fusarium oxysporum f.sp. cubense (Foc), causador da murcha de Fusarium, uma das piores doenças da bananeira, antes conhecida como mal-do-Panamá. A conclusão faz parte da tese de doutorado “Manejo integrado da murcha de Fusarium em bananeira”, do analista Leandro Rocha, defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), sob orientação do pesquisador Fernando Haddad, ambos da Embrapa Mandioca e Fruticultura.
O uso de inimigos naturais contra doenças de plantas faz parte de uma estratégia sustentável, bem consolidada no Brasil, conhecida como controle biológico. Os fungos do gênero Trichoderma se destacam pela eficiência como agentes de controle biológico de plantas no Brasil, mas o isolado utilizado nessa pesquisa foi considerado o melhor da coleção da UFRB. Isso foi comprovado após oito meses de testes nos laboratórios e casa de vegetação da Embrapa.
O Fusarium é capaz de sobreviver no solo por mais de 30 anos e é, atualmente, a pior ameaça a essa cultura, principalmente em perímetros irrigados, como o norte de Minas Gerais e o município de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, grandes polos produtores da fruta, causando sérios prejuízos ao agronegócio. A doença ataca também cultivares do subgrupo Prata, o preferido dos consumidores em diversas regiões do Brasil e que responde por, aproximadamente, 70% da área cultivada com banana no País.
Endêmica em todas as regiões bananicultoras do mundo, no Brasil a murcha teve impacto direto também na cultivar Maçã, diminuindo drasticamente sua presença no mercado devido à alta suscetibilidade ao patógeno.
Resultados vieram de pacote de soluções
Na pesquisa, o isolado Trichoderma asperellum mostrou-se muito eficiente como promotor de crescimento. “Muitos dos agentes de controle biológico também promovem crescimento e proteção de raiz e ele é um solubilizador de fósforo [torna solúvel esse elemento que originalmente é indisponível para a planta], o que otimiza a sua utilização. Os efeitos sobre a bananeira são melhorias no sistema radicular e na absorção de nutrientes, o que ajuda no combate ao patógeno porque a planta-mãe melhor nutrida responde melhor ao ataque do patógeno”, afirma Haddad.
A primeira parceira desse trabalho foi a Fazenda Borborema, localizada em Jaíba (MG), que possuía uma área completamente infestada pela murcha de Fusarium e que não produzia mais bananas – nem mesmo a Nanica, que é resistente à raça 1, presente no Brasil. O manejo foi estabelecido a partir do zero, antes do plantio, e montado um experimento com as variedades Prata, Maçã e a cultivar BRS Princesa [resistente à raça 1 de Fusarium] e com o pacote tecnológico da Embrapa, que incluía o Trichoderma.
“É preciso deixar claro que, por si só, o Trichoderma não consegue ter um efeito positivo sobre o Fusarium e resolver o problema. Isso se mostrou possível apenas com um pacote de medidas e vários tipos de tratamento aliados ao Trichoderma. Mas com a banana Maçã, como ela é altamente suscetível, nem o manejo que adotamos foi eficiente e acabamos por perder todas as plantas do experimento”, conta Rocha.
Interações com outros produtos
Para ter sucesso com o Trichoderma, Rocha salienta o cuidado no uso concomitante com produtos químicos não compatíveis com o controle biológico e até mesmo com Bacillus spp., que são bactérias muito utilizadas nesse tipo de controle. “O Trichoderma que usamos não era compatível com a maioria dos Bacillus utilizados pelos produtores de Minas Gerais e eles, normalmente, faziam aplicações conjuntas e não dava certo. Ou seja, fica claro que um outro tipo de manejo pode prejudicar o resultado”, alerta.
Um aspecto importante do trabalho, que avaliou cinco ciclos de produção, é que ele incluiu o manejo integrado de patógenos e pragas comuns à bananeira, como nematoides e broca-do-rizoma, que geralmente facilitam o ataque do Fusarium. “O bom manejo dos nematoides faz com que a doença seja menos intensa no bananal. É todo um pacote, toda uma tecnologia de produção envolvida aí”, explica.
Pedido de registro
A parceria UFRB e Embrapa Mandioca e Fruticultura já solicitou ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com o apoio da Comissão de Produção Orgânica da Bahia (CPOrg), o pedido de registro do Trichoderma como promotor de crescimento e como cepa disponível para todos. O próximo passo será o pedido do registro como agente de controle biológico para murcha de Fusarium.
Texto: Léa Cunha (Embrapa Mandioca e Fruticultura)
Com edição da ASCOM/UFRB
Leia a notícia na íntegra em Embrapa
FH, 03/11/20