A Bahia lamenta a morte do músico e artista plástico Bel da Bonita
Assista ao vídeo da visita de Bel da Bonita ao Museu Casa do Sertão, em 2021
Feira de Santana se despede com tristeza de um de seus grandes nomes da cultura: Bel da Bonita, que morreu na madrugada desta Sexta-Feira Santa (18). Músico, artista visual, criador incansável, Bel foi um símbolo de sensibilidade, memória e força criativa no sertão baiano.
Percussionista autodidata, iniciou sua trajetória nos anos 1990 na histórica ‘Banda da Paz’, acompanhando nomes como Gilberto Gil, Dominguinhos, Nando Cordel, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, entre outros. Ao longo dos anos, marcou presença em dezenas de produções musicais, criou trilhas sonoras para filmes e deu vida ao projeto ‘Africania’, do qual era idealizador e alma vibrante.
Mas, a expressão artística de Bel não parava na música. Ele também desenhava e pintava — com lápis de cor e folhas simples — cenas do sertão, casinhas da infância, memórias de um tempo onde tudo parecia mais leve. Sua exposição ‘Memórias em Lápis de Cor: casinhas do Sertão’ emocionou ao revelar as saudades e lembranças que habitavam seu coração, especialmente durante o isolamento da pandemia.
Ele cedeu diversas dessas obras para a exposição coletiva promovida pelo Museu Casa do Sertão, da Uefs, mas, quis o destino que sequer participasse da abertura do evento, quarta-feira (16), quando já estava hospitalizado. Bel da Bonita constava no convite como uma das principais atrações dos debates
Como o próprio Bel da Bonita revela, nasceu na região chamada de Piemonte da Chapada Diamantina, área de terras dos municípios de João Dourado, Morro do Chapéu e São Gabriel, fazendo parte do sistema hidrográfico da bacia do São Francisco. E Feira de Santana o acolheu nos anos 1980. Desde então Bel da Bonita retribuiu com arte, afeto e um olhar único sobre a cidade e sua gente. Mesmo sem formação acadêmica formal em arte, transformou as limitações impostas na infância em força criativa — uma arte que nasceu da resistência, da lembrança e da vontade de compartilhar beleza.
Hoje, a cultura popular perde um guardião. Um artista que soube transformar saudade em som, cor e poesia. Seu legado fica na memória de quem o ouviu, o viu, e sobretudo, o sentiu.
Nossa solidariedade aos familiares, amigos e admiradores. Que Bel siga tocando os tambores do infinito e que sua obra permaneça inspirando novas gerações.
Assista ao vídeo da visita de Bel da Bonita ao Museu Casa Sertão, realizada em 2021
Everaldo Goes / Feira Hoje
18/04/14