Desenvolvimento Social 23 de março de 2025

Alimentação e vulnerabilidade: o desafio da segurança alimentar em Feira de Santana

O problema gera impactos em diversas áreas, alem da nutricional; o assunto é tema de oficina, esta semana,  realizada pela Prefeitura e Governo Federal

(Everaldo Goes/Feira Hoje) – Feira de Santana, a segunda maior cidade da Bahia, enfrenta desafios significativos no que diz respeito à segurança alimentar e nutricional. De acordo com o Diagnóstico Alimenta Cidades 2024, realizado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social (MDS) com apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o município apresenta um alto grau de vulnerabilidade nutricional e um elevado nível de pobreza, fatores que impactam diretamente a saúde alimentar da população.

O assunto será tratado, nestas segunda e terça-feira (24 e 25), das 8 às 17 horas, durante a Oficina Estratégica Alimenta Cidades. As atividades serão desenvolvidas no Auditório da Secretaria Municipal de Educação, na rua Barão do Cotegipe, próximo ao ginásio de esportes do antigo Feira Tênis Clube.

O objetivo do evento, realizado em parceria entre a Prefeitura Municipal de Feira de Santana e o Governo Federal, é apresentar o resultado da pesquisa, além de levantar e debater ações para a segurança alimentar no município.

É importante que os diversos segmentos do município tenham pleno conhecimento de que insegurança alimentar não é apenas um problema de nutrição, mas uma questão estrutural que afeta toda a dinâmica social e econômica da cidade.

A falta de segurança alimentar em um município gera impactos profundos em diversas áreas. Na economia, reduz a produtividade da força de trabalho, aumenta os gastos públicos com saúde e assistência social e limita o crescimento do comércio e da indústria locais. No aspecto social, intensifica a desigualdade, favorece a criminalidade e enfraquece os laços comunitários. A formação de mão de obra também é comprometida, pois a desnutrição e a fome prejudicam o desempenho escolar e o desenvolvimento cognitivo, resultando em profissionais menos qualificados no futuro.

No imaginário coletivo, a fome cria um sentimento de desesperança e normaliza a precariedade, reduzindo a confiança na capacidade de progresso do município. No bem-estar emocional, gera estresse crônico, ansiedade e depressão, impactando a qualidade de vida da população.

Principais aspectos destacados na análise diagnóstica:

Números da vulnerabilidade alimentar

Com uma população de 616.272 habitantes, Feira de Santana tem 57% de seus moradores cadastrados no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), sendo que 28,7% vivem em situação de pobreza. O Programa Bolsa Família (PBF) atende 31,5% da população local. Entre as crianças de 0 a 7 anos beneficiárias do PBF, os dados revelam um quadro preocupante:
– 10,9% apresentam magreza acentuada,
– 23,9% estão com excesso de peso,
– 12,8% possuem baixa estatura para a idade.

Esses números evidenciam tanto a desnutrição quanto o consumo inadequado de alimentos, um reflexo do difícil acesso a uma alimentação equilibrada.

Estrutura e políticas públicas

O município conta com um Restaurante Popular que oferece 22 mil refeições mensais e um Banco de Alimentos mantido pelo Serviço Social do Comércio (Sesc). Além disso, há incentivo à agricultura familiar, com 47,4% da aquisição de alimentos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) vindo desse setor. No entanto, há espaço para melhorias, como a implementação de cozinhas comunitárias e subsídios para instituições que promovem a alimentação saudável.

Na infraestrutura alimentar, Feira de Santana dispõe de cinco mercados públicos e 12 feiras livres convencionais. A cidade também conta com uma Central de Abastecimento e uma Central de Recebimento da Agricultura Familiar, mas ainda há a necessidade de expandir os pontos de comercialização de alimentos saudáveis, como sacolões e feiras orgânicas.

Desertos e pântanos alimentares

Um dos maiores desafios identificados na pesquisa é a existência de ‘desertos alimentares’, regiões onde há dificuldade de acesso a alimentos saudáveis. Em Feira de Santana, 37,7% da população vive nessas condições, sendo que 31,9% pertencem à população de baixa renda. Além disso, 10,6% da população mora em áreas classificadas como pântanos alimentares, onde há um grande número de estabelecimentos que vendem apenas alimentos ultraprocessados e de baixo valor nutricional.

Agricultura urbana e produção sustentável

Feira de Santana tem investido na produção local de alimentos saudáveis, com 150 hortas comunitárias e quatro hortas em unidades de saúde. Há ainda políticas municipais de incentivo à agricultura urbana e periurbana, com apoio a pequenos produtores e ações de agroecologia. No entanto, a ocupação de terrenos vazios para cultivo e a formalização de políticas específicas para a agricultura urbana ainda são desafios a serem enfrentados.

Desperdício de alimentos e educação nutricional

A cidade possui um Banco de Alimentos, mas ainda não há políticas estruturadas para a redução do desperdício alimentar. O estudo recomenda a criação de novas iniciativas para minimizar as perdas na cadeia produtiva e ampliar a distribuição de alimentos excedentes para populações em situação de vulnerabilidade.

Na área de educação alimentar, Feira de Santana já desenvolve ações nas escolas, unidades de saúde e serviços socioassistenciais. No entanto, há espaço para fortalecer campanhas de conscientização e eventos que promovam a cultura alimentar saudável entre os moradores.

Caminhos para o futuro

O diagnóstico aponta que Feira de Santana tem avançado em diversas frentes para garantir a segurança alimentar da população, mas ainda há desafios estruturais a serem superados. O alto índice de pobreza e a presença de desertos alimentares exigem um olhar atento do poder público para ampliar políticas de acesso à alimentação saudável.

A implementação de cozinhas comunitárias, o incentivo à produção agroecológica e a ampliação do acesso a mercados de alimentos frescos são algumas das estratégias que podem fortalecer a segurança alimentar e nutricional da cidade.

A alimentação adequada não é apenas uma questão de saúde, mas também de dignidade e qualidade de vida. Para que Feira de Santana avance nesse cenário, é fundamental que as políticas públicas continuem sendo aplicadas e constantemente melhoradas, e que a sociedade civil participe ativamente desse processo.

Feira Hoje, 23/03/25

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