Mundo 19 de maio de 2022

Especialistas suspeitam que Covid-19 pode ter relação com hepatite em crianças

Cientistas britânicos e norte-americanos estão investigando uma possível relação do adenovírus 41 associado à infecção prévia pelo SARS-CoV-2 como possíveis causadores da hepatite aguda em crianças. Detalhes da investigação foram abordados em um artigo na revista Gastroenterology & Hepatology da The Lancet.

Cientistas da Imperial College London, na Inglaterra, e do Centro Médico Cedars Sinai, nos Estados Unidos, concluíram que a infecção pelo SARS-CoV-2 pode resultar em efeitos duradouros no organismo, o que eles chamaram de “reservatórios virais”. Essa persistência viral de SARS-CoV-2 no trato gastrointestinal pode levar à liberação repetida de proteínas virais pelo epitélio intestinal, dando origem à ativação imune.

Essa ativação imune repetida pode ser mediada por um superantígeno (desencadeador de uma ativação ampla e inespecífica de células T) dentro da proteína Spike do SARS-CoV-2 que se assemelha à enterotoxina estafilocócica. Esse tipo de ativação por superantígenos já foi proposta como o mecanismo causal da síndrome inflamatória multissistêmica (SIM-P) em crianças, sendo que a hepatite aguda foi relatada em crianças com SIM-P, o que fez os cientistas estudarem essa relação. Em laboratório, eles detectaram que a infecção por adenovírus associada à enterotoxina estafilocócica B causou choque tóxico, e consequente insuficiência hepática e morte em camundongos.

“Nossa hipótese é que os casos recentemente relatados de hepatite aguda grave em crianças podem ser uma consequência da infecção por adenovírus com trofismo intestinal [nutrição dos tecidos do intestino] em crianças previamente infectadas por SARS-CoV-2 e portadoras de reservatórios virais”, relata o artigo.

A presença do SARS-CoV-2 foi identificada em 18% dos casos relatados no Reino Unido, em 11 dos 97 casos testados para adenovírus na admissão hospitalar, e em outros três casos nas oito semanas anteriores à admissão. Onze dos 12 pacientes israelenses com a hepatite aguda também haviam tido Covid-19 nos últimos meses, e a maioria dos casos relatados de hepatite ocorreram em pacientes abaixo dos cinco anos. 

Já o adenovírus 41 é um subtipo incomum de vírus que afeta predominantemente crianças pequenas e pacientes imunocomprometidos, mas que nunca havia sido relatado como causador de hepatite aguda grave. Porém, ao ser encontrado em várias amostras entre os infectados, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os cientistas de várias partes do mundo passaram a trabalhar a infecção pelo adenovírus como a principal hipótese para o desenvolvimento da hepatite. 

Segundo o artigo da Gastroenterology & Hepatology, as crianças com hepatite aguda devem ser investigadas quanto à persistência de SARS-CoV-2 nas fezes, distorção do receptor de células T e regulação positiva de IFN-γ (citocina liberada após indução de resposta imune), porque isso poderia fornecer evidências de um mecanismo de superantígeno do SARS-CoV-2 em um hospedeiro sensibilizado pelo adenovírus 41. “Se for encontrada evidência de ativação imune mediada por superantígenos, terapias imunomoduladoras devem ser consideradas em crianças com hepatite aguda grave”, concluíram os cientistas.

Hepatite aguda grave no mundo

Segundo a OMS, mais de 300 casos da hepatite aguda grave foram detectados na Europa, Estados Unidos, Israel e Japão – a maioria (176) no Reino Unido e em crianças menores de cinco anos. Em nenhum dos casos foi encontrado os cinco vírus de hepatite existentes (A, B, C, D e E), mas 72% das crianças com hepatite aguda grave no Reino Unido que foram testadas para adenovírus tiveram um adenovírus detectado, e 18 foram identificadas com o adenovírus 41. O Brasil investiga 49 casos de hepatite aguda grave, sem nenhuma confirmação até o momento, segundo o Ministério da Saúde.

Como a maioria dos casos envolve menores de cinco anos, fora da faixa etária elegível da vacinação contra Covid-19 nestes países, a OMS descartou a relação da doença com a imunização contra a Covid-19.

As medidas normais de higiene, incluindo a lavagem completa das mãos e a garantia de que as crianças lavem as mãos adequadamente, ajudam a reduzir a propagação de muitas infecções comuns, incluindo o adenovírus, informou a Agência de Segurança em Saúde do Reino Unido (UKHSA na sigla em inglês).

“É importante que os pais saibam que a probabilidade de seu filho desenvolver hepatite é extremamente baixa. Continuamos a lembrar a todos que estejam atentos aos sinais de hepatite – principalmente icterícia, com um tom amarelo no branco dos olhos – e entre em contato com seu médico se estiver preocupado”, disse a médica e diretora de Infecções Clínicas e Emergentes da UKHSA, Meera Chand, em comunicado. 

Fonte: Butantan

FH, 19/05/22

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