Mais Lidas 4 de março de 2025

Em alta: professores da Uefs analisam o crescimento do curso de Direito, o 3º mais procurado da Bahia

O curso de Direito da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) tem se destacado não apenas pela qualidade de seu ensino, mas também pela crescente procura, como ocorreu, agora, no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). O curso, que em 2025 completa 27 anos de fundação, registrou a terceira maior demanda entre todas as graduações das universidades da Bahia, um feito que reflete a excelência acadêmica da Instituição e o crescente interesse dos estudantes pela área jurídica. A busca por uma formação sólida, que alia teoria e prática, tem atraído cada vez mais candidatos em busca de uma formação de alto nível.

Para entender os fatores que têm contribuído para esse sucesso, o editor do Feira Hoje, Everaldo Goes, conversou com dois professores da Uefs, especialistas na área, que compartilharam suas percepções sobre o desempenho do curso e as expectativas para o futuro. Em entrevista exclusiva, a coordenadora do Colegiado de Direito, Márcia Costa Misi, e o professor José Lima de Menezes, um dos fundadores do curso e também Decano, analisam desde o perfil dos ingressantes até os desafios enfrentados pela instituição, oferecendo uma visão detalhada sobre o processo de ensino-aprendizagem e as demandas do mercado jurídico.

A seguir, os professores falam sobre o que tem impulsionado o curso de Direito da UEFS a se tornar um dos principais do País e ter a preferência na escolhas do estudantes baianos.

Professora Márcia Costa Misi – Coordenadora do Colegiado do Curso de Direito da Uefs

Reconhecimento

Everaldo Goes – O curso de Direito da Uefs tem se destacado nas últimas seleções. Quais fatores, na sua opinião, contribuem para esse aumento da procura e reconhecimento?

Márcia Misi – Acredito que o bom desempenho do nosso curso nos formatos de avaliação existentes (Exame da OAB – recebimento do selo OAB Indica em todas as versões que participou; e ENADE – obteve o conceito máximo e a maior nota dos cursos de direito da Bahia). Além do mais, a sólida formação oferecida repercute na boa inserção de nossos egressos no mercado de trabalho. Essas conquistas não são pontuais e, ao longo dos 26 anos do curso, se tornam conhecidas.

Apoio aos alunos

EG – Quais medidas a Uefs tem adotado para garantir a qualidade do ensino e o suporte adequado aos seus alunos, especialmente diante do crescente interesse no curso?
MM – A UEFS está fortalecendo serviços de suporte a estudantes com necessidades especiais, que inclui a residência universitária (que conta com um alojamento específico para estudantes indígenas) e a política de subsídio ao restaurante universitário. Outro diferencial da nossa universidade é a existência de programas consolidados de apoio à iniciação científica, extensão, monitoria e mobilidade acadêmica internacional, inclusive com a concessão de bolsas.
O nosso curso de direito tem um corpo docente com perfil diversificado, o que permite o desenvolvimento de projetos de pesquisa e extensão em vários ramos do direito, além do contato dos estudantes com professores de carreiras jurídicas diferenciadas. Desse modo, contamos com professores juizes, delegados, advogados, promotores, procuradores e docentes que atuam em regimente de dedicação exclusiva.
Como uma boa universidade pública, a UEFS oferece a seus estudantes oportunidades de formação fora da sala de aula, além de interação com outros cursos. Recentemente foi aprovado o Mestrado em Direito no formato associativo entre as quatro UEBAs, que deve ser implantado no segundo semestre de 2025. Certamente a interação entre graduação e pós-graduação vai qualificar ainda mais a formação oferecida pela Universidade.

Perfil do aluno

EG – Houve alguma mudança no perfil dos candidatos ao curso de Direito da Uefs? O que isso revela sobre a atual demanda por essa formação acadêmica?
MM – Desde que houve implantação das cotas, especialmente a partir da adoção do sistema de heteroidentificação, a diversidade do perfil dos estudantes tem se fortalecido. Esse fator tem contribuído muito para a inserção de debates importantes no nosso curso, como a temática da relação entre direito e questões raciais, da diversidade sexual e das demandas relacionadas às comunidades tradicionais.

Infraestrutura e recursos

EG – Com o aumento da procura, quais investimentos a universidade tem feito para melhorar a infraestrutura e os recursos disponíveis para os alunos e docentes do curso?
MM – Recentemente houve recomposição do quadro docente com concurso público e seleção para contrato temporário. A Universidade também está recompondo o seu quadro de servidores técnicos. Importante destacar o investimento na formação do corpo docente e do corpo técnico em cursos de pós-graduação stricto sensu A Biblioteca está investindo em formação de acervo virtual, o que facilita o acesso dos estudantes. Está em processo de finalização a montagem de uma sala de vídeo conferência, que permitirá o uso da tecnologia para contar com a contribuição de parceiros de vários lugares do Brasil e do mundo.

Parcerias e estágios

EG – Como a Uefs tem trabalhado em parcerias com o setor público e privado para oferecer oportunidades de estágio e prática profissional para os alunos de Direito?
MM – O nosso curso de direito tem uma coordenação de estágio que acompanha a celebração dos contratos de estágio, realizados com uma variedade de parceiros tanto no setor público, quanto privado.

Desafios da formação jurídica

EG – Quais são os maiores desafios enfrentados pelos alunos de Direito hoje em dia e como o curso da UEFS se adapta para preparar seus alunos para esses desafios?
MM – Acredito que o maior desafio é superar uma tradicional formação jurídica extremamente abstrata, desconectada da realidade social.
O curso de direito da UEFS se destaca por envidar esforços para oferecer uma formação jurídica socialmente contextualizada. Isso se expressa na matriz curricular, nos diversos projetos de pesquisa e extensão e nas frequentes viagens de campo que proporcionam aos estudantes contatos com a realidade social.
Essa ênfase fortalece uma importante habilidade em nossos egressos: a capacidade de adaptação às rápidas transformações do nosso tempo.

Mercado de trabalho

EG – Considerando o atual cenário jurídico no Brasil, como a Uefs tem orientado seus alunos sobre o mercado de trabalho e as novas áreas de atuação para os bacharéis em Direito?
MM – Essa orientação ocorre de forma natural ao longo do curso. As diversas oportunidades oferecidas para nossos estudantes permitem que se mantenham atualizados para novas áreas de atuação para os bacharéis em Direito e, assim, possam escolher de acordo com suas preferências individuais.

Inovações pedagógicas

EG – Há alguma inovação pedagógica no curso, como o uso de novas tecnologias ou metodologias de ensino, que tenha se mostrado eficaz no processo de aprendizado dos alunos?
MM – Estamos experimentando inserir a interdisciplinaridade como metodologia de ensino. Também estamos iniciando a implantação da curricularização da extensão, uma exigência do MEC que oficializa uma prática que já existe no nosso curso.

Formação de profissionais éticos

EG – Em tempos de crise de confiança nas instituições, qual a importância da formação ética para os futuros advogados e como o curso da Uefs aborda esse tema?
MM – O profissional egresso curso de direito da UEFS é conhecido por sua sensibilidade em relação às demandas sociais de um país que enfrenta profundas desigualdades. Isso se deve à formação humanista que recebe e que está refletida na nossa matriz curricular. Temos um currículo que reconhece a importância de conhecimentos extrajurídicos para conhecer a realidade social onde se aplica o direito e de se comprometer com as transformações necessária s e possíveis para diminuir as desigualdades sociais.

Professor José Lima de Menezes – professor fundador e Decano do Curso de Direito da Uefs

Trajetória e experiência no curso

Everaldo Goes – Como o senhor vê a evolução do curso de Direito da UEFS ao longo dos anos? Quais momentos ou mudanças foram mais marcantes para a qualidade do ensino oferecido?

José Lima – O curso foi pensado e implantando com a preocupação de oferecer a melhor qualidade possível. A primeira matriz curricular foi elaborada em acordo com a normativa de reformulação do ensino

jurídico do país e contou com a assessoria do professor Horácio Rodrigues Wanderlei, mentor intelectual da Portaria Ministerial 1886/94, que reformou e ampliou a grade curricular dos cursos jurídicos.

Implantado o curso, fizemos parceria com a Universidade Federal de Pernambuco, para a qualificação de docentes. Nessa parceria, cerca de dez professores obtiveram o titulo de mestre, o que, na época, foi uma conquista e um diferencial.

Após esse primeiro momento, novos professores se incorporaram ao curso, todos com forte vocação para a docência e pesquisa. Estes caminharam para o doutorado e retornaram com mentalidade voltada para a crítica do direito posto, a partir da crítica da realidade social.

Posso dizer que o curso de direito da UEFS não se contenta em formar operadores do direito. Há uma preocupação com a realidade da vida das pessoas e com uma realidade jurídica favorável à realização da dignidade das pessoas.

Ensino e prática jurídica

EG – Considerando sua longa experiência na área, como o senhor avalia a integração entre teoria e prática no curso de direito da UEFS? Existem iniciativas específicas que favorecem essa integração?

JL – Desde o início, houve a preocupação com integrar teoria e prática. A matriz curricular contempla laboratórios de prática jurídica. Além disso, temos, instalado no fórum, um serviço de assistência jurídica, o SAJ UEFS. Os alunos também participam de excelentes estágios.

Formação dos professores

EG – O que o senhor acredita ser essencial para a formação de um bom professor de Direito? Como a UEFS tem incentivado o desenvolvimento pedagógico de seus docentes?

JL – Antes de saber direito, é preciso de excelente visão de mundo, do homem e da história. Sem tal aparato intelectual, é impossível COMPREENDER o direito. Penso que há um diferencial no corpo docente do curso de direito das UEFS. Os professores, em sua grande maioria, são muito focados nos problemas da existência e de como o direito pode servir ao homem e à sociedade. Daí resulta um ensino crítico. Na UEFS, não nos contentamos em saber operar o direito. Nós pensamos o direito. Nós fazemos a crítica do direito posto, à luz de valores.

Desafios da docência

EG – Ao longo de sua carreira, quais foram os maiores desafios que o senhor enfrentou como professor de direito, especialmente com as mudanças na sociedade e na educação superior?

JL – Meu grande desafio, penso que é o desafio da escola, de modo geral. Falo do desafio de fazer do ato de ensinar um momento mágico, lúdico, em que o aluno tenha interesse na busca do conhecimento como algo que é vital. É preciso ir à escola como quem vai ser feliz e não como alguém que vai ao sacrifício. Conhecimento é condição de vida. O desafio da escola, o meu desafio, é este: fazer o aluno sentir que o conhecimento é vital, é condição de vida. Experimento isto especificamente no curso de direito, pois trabalho com disciplina que não agrada à maioria das pessoas, o direito tributário.

Visão sobre o mercado de trabalho

EG – Em sua opinião, como o mercado jurídico mudou ao longo do tempo e de que forma a UEFS prepara seus alunos para essas transformações?

JL – A vida social tornou-se infinitamente mais complexa do que fora em outras épocas. Os novos modos de viver, de se comunicar, de lidar com o planeta, mostram que direito tem que dar conta de muitas coisas que, antes, nem eram pensadas. A amplitude do mundo e da vida geram amplitude de campos de atuação e aplicação do direito. Antes, era possível alguém ter sucesso com uma individual banca de direito. Hoje, é preciso trabalhar em equipe, é preciso organizar o escritório como empresa, por exemplo.

Penso que a UEFS tem na extensão e na pesquisa a oportunidade de preparar não só seus alunos, mas, antes, os próprios docentes.

Contribuição para a comunidade

EG – O curso de Direito das UEFS tem se destacado por sua atuação na comunidade local. Como o senhor vê o papel social do curso e sua contribuição para a formação de profissionais conscientes das suas responsabilidades sociais?

JL – Qualquer instituição social se legitima em transformar vidas para melhor. Posso dizer com segurança, por ter presenciado e constatado: O CURSO DE DIREITO DA UEFS TEM TRANSFORMADO VIDAS PARA MELHOR. Nossos alunos têm galgado importantes postos na vida nacional. E isto se deve às suas capacidades.

Mudanças na educação jurídica

EG – Quais as principais transformações que o senhor percebe no ensino jurídico ao longo dos anos? Como a UEFS tem se posicionado diante dessas mudanças?

JL – Algumas instituições se voltam à preparação do que se chama de operador do direito. Normalmente as faculdades particulares. Já as instituições públicas, notadamente, estão voltadas à formação crítica do jurista. Esse é o caso da UEFS.

Impacto das novas gerações

EG – Qual a sua percepção sobre as novas gerações de estudantes de direito? Há uma mudança nas expectativas, nas abordagens e no comportamento dos alunos ao longo dos anos?

JL – Percebo que as novas gerações se preocupam muito em se tornarem aptas a uma atividade política ( no bom sentido do termo) na vida social, enquanto que as mais antigas estavam mais preocupadas com um saber que lhes desse mais poder social.

FH, 30/01/25

Leia também:

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