Conheça vencedores do Prêmio Nobel que foram homenageados em cédulas
O químico sueco Alfred Nobel (1833 – 1896) achava que sua criação, a dinamite, iria ajudar a acabar com a guerra. Ele acreditava que quando dois 01exércitos com forças semelhantes pudessem aniquilar um ao outro em um instante, as nações civilizadas debandariam suas tropas e desistiriam do combate. Mas não foi o que ocorreu.
Em 1888, um jornal francês publicou por engano a morte de Alfred Nobel, com o título “O mercador da morte está morto”. Mas era seu irmão que havia morrido, após experimentos com nitroglicerina na fábrica de explosivos da família. Não gostando da chamada jornalística, Nobel concluiu que não era este o legado que gostaria de deixar para a humanidade. E passou, então, a planejar a criação de prêmios para aqueles que contribuíssem para o futuro da humanidade.
Após sua morte, seus familiares estavam curiosos pela abertura de seu testamento, a fim de saber como seria a distribuição de sua riqueza. Para a surpresa de todos, ele havia deixado uma herança de 35 milhões de coroas suecas para a criação de uma instituição que seria responsável pela administração da premiação que ele havia imaginado. A Fundação Nobel foi criada em 1900 e a primeira premiação ocorreu no ano seguinte.
O Prêmio Nobel é um conjunto de prêmios concedidos anualmente por comitês suecos e noruegueses em reconhecimento aos avanços culturais e científicos mundiais em seis categorias: Química, Física, Literatura, Medicina, Paz Mundial e Economia. Cada ganhador é premiado com uma medalha de ouro 18 quilates com a face de Nobel, um diploma com sua condecoração e um prêmio em dinheiro. O prêmio da Paz é entregue em Oslo e apresentado pelo presidente do Comitê Norueguês, enquanto as demais categorias são entregues em Estocolmo e apresentadas pelo rei da Suécia, seguindo as instruções deixadas em testamento pelo seu criador.
O prêmio Nobel de Economia não foi uma categoria criada por Alfred Nobel. Ele é tecnicamente um prêmio associado, concedido pelo Banco Central da Suécia e criado em sua memória, em 1968, como Ciências Econômicas. Os prêmios são entregues anualmente em cerimônias especiais nos dias 10 de dezembro, aniversário de morte de Nobel.
Na coluna Dinheiro do Mundo deste mês, confira alguns vencedores de diversas categorias do Prêmio Nobel e que estamparam cédulas ao redor do mundo. As notas fazem parte do acervo do Museu de Valores do BC. Não consta no acervo, no entanto, nenhuma cédula estampada com algum vencedor na categoria Economia.
Nobel da Paz de 1905 – Bertha von Suttner (Áustria)
Bertha Felicie Sophie von Suttner (1843-1914) foi uma romancista e ativista política austríaca. Estudou música quando jovem, com especialização em ópera e línguas. Em 1875, foi para Paris como secretária do sueco Alfred Nobel, e se tornaram grandes amigos. Aos 30 anos foi para Viena trabalhar como dama de companhia para as filhas da família von Suttner. Na ocasião, conheceu seu futuro marido, o filho mais novo da família von Suttner, Arthur. O casamento não agradou à família, o que fez o casal se mudar para o Cáucaso, onde viveram por nove anos publicando livros e ministrando aulas de música.
Após publicar o livro “Abaixo as Armas!” (Die Waffen Nieder -1889), converteu-se numa líder ativa do movimento pacifista. Alguns anos depois, ajudou a organizar o primeiro Congresso Internacional de Paz, em Viena, e fundou a Sociedade Austríaca dos Amigos da Paz. Manteve contato com seu amigo Alfred Nobel a fim de informá-lo sobre o movimento pacifista, e seu desempenho o incentivou a criar um prêmio para a Paz. Na quinta premiação dessa categoria, em 1905, Bertha foi a primeira mulher a receber o Nobel da Paz.
Bertha von Suttner estampa o anverso da cédula de 1000 xelins, de 1966. No reverso, a vista do monumento histórico nacional austríaco Palácio Leopoldskron, com a fortaleza Hohensalzburg ao fundo.
Nobel de literatura de 1909 – Selma Lagerlof (Suécia)
A primeira mulher a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1909, foi Selma Ottilia Lovisa Lagerlöf (1858-1940), uma escritora de grande renome no seu país de origem, a Suécia. Ela também foi a primeira mulher a ser membro da Academia Sueca, em 1914. Nascida na província da Varmlândia, no oeste da Suécia, ela teve uma infância solitária, devido a um problema de nascença na perna esquerda. O fato colaborou para que ela se dedicasse à leitura. Determinada e com imaginação fértil, achou-se capaz de “fazer milagres”, tanto que repentinamente voltou a andar, apesar de sentir dores. Aos 15 anos, decidiu ser escritora.
Selma publicou seu primeiro romance completo em 1891, A Saga de Gösta Berling. Depois disso, nunca mais parou de escrever. Desde 1992, seu retrato tem sido destaque no anverso da cédula de 20 coroas suecas, de 1997. No reverso, está estampada uma cena do seu livro mais famoso, “A maravilhosa viagem de Nils Holgersson através da Suécia”, em que um menino voa com um ganso de neve. A obra foi adotada como livro didático no país.
Nobel de Literatura de 1923 – William Butler Yeats (Irlanda)
Considerado um dos grandes poetas do século 20, William Butler Yeats (1865-1939) nasceu em Dublin, na Irlanda. Ele estudou poesia desde cedo e logo se interessou pelos mitos e lendas irlandesas, tópicos muito presentes na primeira fase de seu trabalho. A partir de 1900, sua poesia passou a ser mais realista, nacionalista e modernista. Yeats foi um dos responsáveis pelo estabelecimento do movimento que ficou conhecido como Renascimento Literário Irlândes (ou Celta), essencial na fundação do teatro literário irlandês Abbey.
Ele queria que sua poesia capturasse toda a complexidade da vida e, num determinado momento, deixou de se dedicar integralmente ao retrato da classe camponesa irlandesa para manifestar em seus poemas suas visões políticas. Em 1922, Yeats se tornou senador, e, entre outras coisas, presidiu o comitê encarregado de selecionar desenhos para a primeira cunhagem de moeda da Irlanda livre.
Em suas últimas obras, ele abandona os temas políticos para incorporar seu universo pessoal, incluindo os filhos e a própria experiência do envelhecimento. Em 1923 recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. William Butler Yeats aparece no anverso da nota de 20 libras, que circulou de 1980 a 1992, como parte da nova série de notas “História da Irlanda” do Banco Central da Irlanda. Ao lado de sua efígie, a representação de um herói da mitologia irlandesa, Cúchulainnk, baseada no motivo usado pelo Teatro Abbey. No fundo, um manuscrito de Yeats. No reverso da cédula, imagem das Ilhas Blasket, que fazem parte do Condado de Kerry, República da Irlanda, feita por Tomas Ó Criomhthain.
Nobel de Química de 1908 – Ernest Rutherford (Nova Zelândia)
Ernest Rutherford (1871-1937) foi um físico e químico neozelandês, naturalizado britânico, conhecido como o pai da Física Nuclear. Graduado em Matemática e Física pela Universidade de Wellington, na Nova Zelândia, em 1893, ele ingressou na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, após um concurso de bolsas. Lá, no Laboratório Cavendish, sob orientação do físico J.J. Thomson, responsável pela descoberta dos elétrons, Rutherford realizou pesquisas sobre a movimentação das partículas atômicas eletricamente carregadas – íons. Estudou, ainda, as radiações emitidas pelo rádio, elemento recém-descoberto pelo casal Marie e Pierre Curie.
Em 1898, Rutherford partiu para o Canadá, onde seguiu realizando pesquisas em torno do elemento urânio na Universidade Mc Gill de Montreal, constatando dois tipos de emissões radioativas as quais denominou raios alfa e beta. Essas descobertas permitiram, futuramente, estabelecer as bases da Teoria da Relatividade, juntamente com o químico inglês Frederick Soddy. Em 1907, Rutherford mudou-se para Manchester, na Inglaterra, onde continuou as pesquisas em torno do urânio. Ele descobriu, então, a relação da radioatividade com s transmutação dos elementos e a química das substâncias radioativas, o que lhe rendeu, no ano seguinte, o prêmio Nobel de Química.
Após ganhar o prêmio, Rutherford realizou um dos mais célebres de seus trabalhos. Sob sua direção, Hans Geiger e Ernest Mardsen conduziram um experimento (no Brasil chamado de “Experimento de Rutherford”), em que demonstrava a natureza nuclear dos átomos através do desvio de partículas alfa atravessando uma fina folha de ouro. Com os resultados do experimento, Rutheford foi levado em 1911 a criar um modelo atômico que leva o seu nome – Modelo Atômico de Rutherford – que concebeu a constituição do átomo por um minúsculo núcleo de carga positiva orbitada por elétrons. Baseado nessa concepção, mais tarde, o físico dinamarquês Niels Bohr idealizou um novo modelo atômico.
Rutherford foi presidente da Royal Society (1925-1930), uma instituição inglesa destinada ao reconhecimento, à promoção e ao apoio da excelência no campo científico, que busca encorajar o desenvolvimento e o uso da ciência em benefício da humanidade. Ele também recebeu a Ordem de Mérito (1925) e foi condecorado Lord Rutherford of Nelson em 1931. O cientista foi homenageado no anverso da cédula de 100 dólares neozelandeses, de 2000. O reverso é estampado com um mohua, espécie de ave nativa da Nova Zelândia. O Museu de Valores do BC possui essa cédula em dois tipos de material: em polímero, que pode ser conferida na Sala Mundo, e em papel, cuja unidade está guardada em acervo.
Nobel de Física de 1922 – Niels Bohr (Dinamarca)
O físico dinamarquês Niels Bohr (1885-1962) transformou fundamentalmente a compreensão do mundo. Aos 12 anos, entrou para o Sortedam Gymnasium, onde estudou Humanidades e Ciências. Com 22 anos recebeu a medalha de ouro da Sociedade Científica Dinamarquesa por seus estudos sobre tensão superficial. Em 1911, completou seu doutorado em Física. Niels Bohr estudou com o pai do eléctron, J. J. Thomson, e com o físico neozelandês, Ernest Rutherford, precursor das descobertas sobre Física Atômica, de quem se tornou grande amigo.
Bohr ampliou a teoria de Ernest Rutherford, que afirmava que o átomo era formado por um núcleo de carga positiva, com elétrons de carga negativa, em órbita, em torno dele mesmo. O físico dinamarquês afirmou que os elétrons viajavam apenas em órbitas sucessivamente maiores e que as órbitas exteriores poderiam conter mais elétrons do que as interiores. Embora houvesse aplicação prática em muitas modalidades, Bohr entendia que a área em si era extremamente abstrata e virtualmente incompreensível para o homem comum. A sua contribuição para a ciência se limita à mecânica da menor de todas as coisas, isto é, o átomo. Na área da mecânica quântica, Bohr revolucionou a compreensão da estrutura do átomo, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Física, em 1922.
Niels Bohr aparece no anverso da cédula de 500 coroas dinamarquesas, emitida pelo Banco Central da Dinamarca a partir de 1997. A autoridade monetária foi fortemente criticada pela Sociedade Dinarmaquesa do Cancêr por escolher um retrato de Bohr fumando um cachimbo, em uma era em que fumar era particularmente proibido. No reverso da cédula, um cavaleiro lutando com um dragão, inspirado na construção da Lihme Church, no norte da Jutlândia, na Dinamarca, uma das mais antigas igrejas de pedra dinamarquesas.
Nobel de Medicina de 1945 – Howard Florey (Austrália)
Filho de imigrantes ingleses, o australiano Howard Florey (1898-1968) formou-se na Universidade de Adelaide com diplomas em ciências e medicina. Ganhou a bolsa Rhodes para estudar na Universidade de Oxford por seus méritos acadêmicos e pela excelência como jogador de tênis. Em Oxford, dedicou-se a pesquisas científicas e, após o término de sua bolsa de estudos, foi integrante de uma expedição para o Ártico. Quando retornou, ingressou na Universidade de Cambridge para PhD em patologias.
Em 1936 foi nomeado diretor da Escola Sir William Dunn de Patologia em Oxford, e formou um grupo interdisciplinar de cientistas para investigar processos patológicos das doenças, manifestação de sintomas e mudanças químicas no corpo. Dedicou um grupo de cientistas para estudo exclusivo sobre propriedades naturais de substâncias antibacterianas. Entre os cientistas do grupo estava o bioquímico Ernst Chain, também creditado pela descoberta da penicilina. Os esforços dos cientistas não foram suficientes para que a penicilina fosse utilizada durante a Segunda Guerra Mundial, mas os estudos continuaram e eventualmente houve a produção em escala do antibiótico.
Florey recebeu o prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia em 1945, junto com Sir Alexander Fleming e Ernst Chain, pela descoberta da penicilina e seus efeitos curativos para diversas doenças infecciosas. De 1960 a 1965 foi presidente da prestigiosa Royal Society e colecionou diversas posições honrosas em sociedades científicas na Europa, nos EUA e na Austrália. Em 1965, ele foi condecorado Sir pela rainha Elizabeth II da Inglaterra.
Howard Florey estampa o anverso da cédula de 50 dólares australianos, de 1973. Ao fundo de sua imagem, instrumentos de trabalho em seu laboratório. No reverso da cédula está o veterinário australiano Ian Clunies Ross, homenageado por seu papel na política australiana em nome da ciência (Commonwealth Scientific e Industrial Research Organisation).
A polonesa Marie Curie, vencedora do Prêmio Nobel de Física, em 1903 – dividido com seu marido Pierre Curie e Antoine Henri Becquerel – e do Prêmio Nobel de Química, em 1911, já foi citada em matéria da coluna Dinheiro do Mundo sobre mulheres que estamparam cédulas de diversos países.
Confira também a última edição da coluna Dinheiro do Mundo, sobre símbolos da flora nacional.
As informações foram retiradas de sites como Nobel Prize, World banknotes and coins, Science History Institute, BBC, entre outros.
Fonte: Banco Central do Brasil
FH, 6/5/18