Artigo / Por Adalberto Nunes 16 de abril de 2025

Robô “mulher” linda e sexy: a namorada/companheira perfeita para os homens?

A tecnologia mais uma vez nos confronta com uma pergunta desconfortável: até onde devemos ir? Esta semana uma empresa de tecnologia surpreendeu o mundo ao  apresentar robôs humanoides projetados com aparência feminina, inteligência artificial avançada e uma promessa inquietante — ser sua namorada. Programada para conversar, responder, acompanhar rotinas e até simular afeto, chegam a custar cerca de 200 mil dólares e tem despertado curiosidade e fascínio mundo afora.

Mas o que acontece com um homem que decide trocar a complexidade de uma relação humana por uma companheira programada? A aparência de perfeição pode esconder riscos profundos. A seguir, trago algumas reflexões que considero necessárias:

Isolamento emocional e social

Ao escolher uma robô como companhia, o homem pode, aos poucos, se afastar de conexões humanas autênticas. Relações exigem esforço, diálogo, frustrações, crescimento conjunto. Um robô, por mais convincente que seja, não exige nada — apenas responde. Isso pode parecer um alívio no início, mas a longo prazo, aprofunda o isolamento e enfraquece a habilidade de se relacionar com pessoas reais.

Desenvolvimento afetivo limitado

Amar é encontrar o outro em sua alteridade, aceitar suas contradições, construir uma ponte entre mundos diferentes. Com robôs, as reações são programadas, previsíveis, ajustáveis. Isso gera uma bolha onde o afeto deixa de ser troca e vira simulação. A pessoa pode perder o senso de realidade emocional, tornando-se alguém incapaz de lidar com a autenticidade — e a dor — do amor humano.

Risco de despersonalização

Quanto mais se convive com uma inteligência artificial moldada para agradar, mais se corre o risco de transferir essa lógica para as relações humanas. Pessoas deixam de ser vistas como seres complexos, com vontades e limites, e passam a ser percebidas como “programáveis”. Esse efeito desumanizador pode corroer o respeito pelas diferenças e abrir espaço para uma cultura de controle e consumo afetivo.

Dependência emocional e psicológica

A relação com uma robô pode se tornar uma fonte de dependência intensa. O robô não abandona, não discute, não adoece — está sempre lá. Isso pode parecer uma segurança emocional, mas, na verdade, cria uma ilusão. Se a robô falhar, for retirada ou simplesmente substituída por uma versão mais atual, o impacto psicológico pode ser severo. A ausência de vínculos reais não protege: ela fragiliza.

Implicações éticas e existenciais

Esse tipo de tecnologia é uma fantasia construída para agradar, obedecer, simular carinho. Isso nos leva à ilusão da reciprocidade. Estamos amando quem, afinal? E o que isso diz sobre a forma como enxergamos o outro? No caso de robôs com aparência feminina, há um agravante: reforça-se um modelo ultrapassado de mulher submissa, moldável, sempre disponível — um retrocesso travestido de inovação.

Estagnação pessoal

Relacionamentos nos desafiam, nos empurram para fora da zona de conforto. São dolorosos, mas também nos fazem crescer. Uma robô como namorada pode oferecer consolo, mas dificilmente provocará transformação. Sem atrito, não há evolução. A vida ao lado de uma inteligência artificial que apenas reforça desejos pode se tornar uma prisão confortável, mas sem alma.

Resumindo

As considerações acima também servem para mulheres que venham a adquirir robôs para servirem de companheiros.

Esses robôs talvez sejam o ápice da tecnologia emocional, mas está longe de ser a resposta para a solidão humana. Precisamos de mais humanidade, não de simulações sofisticadas. O risco maior não é que as máquinas se tornem humanas, mas que nós passemos a agir como elas: frios, automatizados, incapazes de lidar com o que nos torna verdadeiramente vivos — o encontro com o outro.

*Adalberto Nunes é professor aposentado, colunista eventual e novo colaborador do Feira Hoje. Escreve sobre comportamento, ética e memória.

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FH, 15/04/25

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